Uma lista de presença em que a professora marca uma bolinha ao lado do nome dos alunos que estão em sala de aula e escreve “F” para os que faltaram; “slides” feitos à mão, em papel acetato, para serem posicionados em um retroprojetor e substituídos manualmente, sendo necessário ajustar o foco do aparelho a cada vez, de acordo com os escritos e desenhos elaborados pelo professor; presença de computadores apenas em laboratórios de informática ou salas especiais, para serem utilizados somente em casos específicos.
Se você frequentou a escola antes dos anos 2000, certamente vivenciou ao menos uma dessas experiências, não é mesmo? A existência de recursos digitais em ambiente escolar ainda era muito rara e a digitalização da Educação estava bem no comecinho. Duas décadas depois, tudo está muito diferente; hoje, o universo analógico está em ressignificação em muitas áreas de nossa vida.
O século XXI é marcado pela presença tecnológica e digital e a sociedade conta com um novo fenômeno: robôs nos mais variados lugares e situações. Como assim, robôs? Isso mesmo!
Robôs não são apenas aqueles seres metálicos presentes nos desenhos animados ou em filmes futuristas: podemos definir um robô como uma máquina programável e automatizada, capaz de realizar tarefas físicas ou computacionais sem a intervenção humana direta. Assim, o famoso ChatGPT, por exemplo, que vem influenciando diretamente muitas atividades, inclusive as educacionais, é um modelo de linguagem que utiliza robôs para o seu funcionamento. Também podemos falar de robôs como o aspirador de pó robô, ou mesmo os drones, que são robôs utilizados para captar fotos e vídeos.
Como tudo em nossa vida não é mais como antes, as profissões vêm sendo modificadas e, portanto, as habilidades e as competências necessárias para que as crianças e os jovens estejam preparados para o futuro estão sendo impactadas diretamente por essa transformação tecnológica.
Pensando nisso, uma área que vem cada vez mais sendo explorada pela escola é a robótica: a ciência que estuda a construção de objetos, incluindo os robôs. A robótica envolve diversas áreas e conceitos, não só da tecnologia, mas também da engenharia mecânica, elétrica, da física, das ciências e, claro, da matemática. Assim, para que os estudantes possam construir robôs ou realizar atividades relacionadas à robótica, devem utilizar muitos conhecimentos, inclusive os relacionados à programação e à linguagem. Em outras palavras, na robótica educacional, há uma necessidade de que os alunos operem diversos saberes, reunindo elementos não estruturados para desenvolverem projetos.
Mas por que criar robôs, ou realizar atividades relacionadas à robótica, é importante para os alunos?
A robótica dá “vida” para protótipos das mais variadas vertentes: os elementos não estruturados, que mencionamos anteriormente, podem ser de diversas naturezas, desde sucatas, kits de montagem ou, até mesmo, códigos. Ao combiná-los, os estudantes dão vida a projetos que podem incluir robôs que se mexem, objetos para uso diário, jogos digitais, etc.
Assim, quando a robótica educacional é utilizada como abordagem pedagógica, os alunos são convidados a utilizarem os robôs como ferramentas de aprendizagem e isso tem consequências importantes. Encoraja o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas à Educação STEM (Educação que engloba o aprendizado dos conceitos de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática de forma prática e significativa para os estudantes – veja mais aqui) e a promoção do desenvolvimento de habilidades cognitivas, como pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas, criatividade e trabalho em equipe.
Um outro ponto muito importante para o qual a robótica educacional contribui é a inclusão de alunos com deficiências ou necessidades especiais: com a ajuda da robótica educacional, muitas crianças e jovens conseguem trabalhar habilidades sociais, linguísticas e cognitivas de forma mais encorajadora e acessível.
Desta forma, ao incluir a robótica educacional nas práticas pedagógicas, os alunos são envolvidos em projetos de forma prática, tornando os processos de ensino-aprendizagem relacionados às ciências, tecnologia, engenharia e matemática mais interativos, relevantes e condizentes com as necessidades individuais de cada aluno e com as exigências do futuro.
Como implementar a Robótica Educacional na escola?
Implementar a robótica educacional na escola vem sendo cada vez mais natural. Afinal, toda a tecnologia e o mundo digital estão se tornando intrínsecos em nossa vida e na escola. Entretanto, é válido seguir alguns pontos fundamentais. Vamos explorá-los?
Em primeiro lugar, é fundamental que objetivos sejam bem estabelecidos: qual a intenção de introduzir a robótica educacional? Desenhar aquilo que se quer alcançar, dependendo da etapa de ensino em que se está, é a base que determinará o que será trabalhado. Por exemplo, em algumas turmas, a robótica educacional é utilizada para melhorar o engajamento dos alunos; em outras, para desenvolver habilidades STEM; ou ainda, há aquelas que utilizam a robótica pensando no desenvolvimento de competências das futuras carreiras tecnológicas.
Desta forma, será estabelecido um currículo específico para estes aprendizados e, assim, a equipe pedagógica poderá planejar momentos próprios para o desenvolvimento das habilidades e das competências determinadas, seja em atividades especiais ou integradas ao currículo regular. A robótica educacional pode e deve ser utilizada para contribuir com o conhecimento como um todo, demonstrando conceitos e ajudando os estudantes na compreensão dos saberes.
A partir deste ponto, como a robótica educacional utiliza elementos diversos, é necessário identificar os recursos necessários para sua implementação. É importante destacar que uma das principais características da robótica educacional no ambiente escolar é a de dar espaço para que os estudantes se sintam envolvidos e promovam sua participação ativa; eles devem ser os protagonistas das aprendizagens que trabalharão.
Nesse sentido, é fundamental que os alunos conheçam o processo que realizarão a partir da robótica educacional: que projeto desenvolverão? Por quê? Ele terá algum impacto no dia da escola? Ao incentivar que questões como essas sejam respondidas pelos estudantes, maiores são as possibilidades de que eles se sintam pertencentes e autores da elaboração e da execução de seus projetos.
Para além de contar com as ferramentas, equipamentos e/ou programas necessários, é importante que os aspectos físicos da instituição escolar sejam pensados: deve ser dinâmico, para que os estudantes se sintam à vontade para experimentar, cometer erros e aprender com eles. Também deve ser um espaço que favoreça o trabalho em grupo para que os alunos e alunas possam interagir de forma colaborativa.
Outro ponto fundamental para o sucesso da implementação da robótica educacional é oferecer formação e treinamento para os professores: eles precisam se sentir seguros e confortáveis em trabalhar com conceitos e tecnologias que, muitas vezes, ainda estão sendo lançadas e não foram desvendadas pela maior parte das pessoas.
Por fim, é relevante mencionar que, como foram definidos objetivos a serem alcançados, é de extrema importância avaliar o desempenho dos estudantes, a fim de medir o seu progresso e oferecer feedbacks, tanto para os alunos, como para os professores. Dessa forma, a presença da robótica educacional na escola pode ser aperfeiçoada, contribuindo, cada vez mais, com a formação dos alunos e das alunas.
A tecnologia, o mundo digital e os robôs vieram para ficar. Tudo isso, quando usado de forma positiva, pode contribuir fortemente para o futuro das crianças e dos jovens. A partir dessas ferramentas versáteis, que são atualizadas a todo tempo, habilidades importantes e necessárias para o mundo atual podem ser desenvolvidas e trabalhadas, tornando a aprendizagem cada vez mais empolgante, significativa e envolvente.