Como promover a inclusão e diversidade na escola?

Por BRUNNA BUSCH
janeiro, 24

A escola é uma das principais instituições sociais e, por ocupar esse papel central em nossas vidas, enfrenta grandes desafios. Embora muitas tradições ligadas à forma de se relacionar com o conhecimento sejam as mesmas há anos, as rápidas e profundas mudanças que marcam o nosso tempo fazem com que seja necessária uma atualização constante das instituições e de suas práticas – o que passa pela formação dos profissionais da educação.

Para ilustrar o cenário atual, imagine que vamos entrarmos em uma sala de aula dos nossos dias. Certamente poderemos notar algumas características bastante distintas se compararmos com uma sala de aula do século passado. Por exemplo, não há mais uma disposição física unânime – antigamente, o comum era termos a lousa na frente e as cadeiras enfileiradas para que os alunos prestassem atenção naquilo que estivesse sendo exposto. Em contrapartida, hoje, muitas salas de aula são organizadas em formatos dinâmicos, isto é, as carteiras disponibilizadas em pequenos grupos ou formando uma grande roda para que alunos e professores possam se olhar frente a frente e realizar uma gama de atividades diferenciadas.

Outra característica estrutural inovadora que chama bastante atenção na escola atual é a presença de recursos destinados a atender necessidades específicas de estudantes: já encontramos em maior quantidade rampas para o acesso de pessoas que possuem dificuldades motoras, ou que utilizem cadeira de rodas; sinalizações que contemplem sistema de escrita tátil (como o braile) ou que possuam dispositivos sonoros, para que pessoas com deficiência visual parcial ou total possam se locomover autonomamente; banheiros adaptados para diversos tipos de necessidades, com barras de apoio, torneira de pressão e portas com maçanetas do tipo alavanca.

A nova cara da escola é fruto das iniciativas pensadas para tornar a educação cada vez mais inclusiva: respeitar as diferenças e dar acesso à educação para todos e todas. Este modo de pensar e viver a escola, com respeito à diversidade, não é algo que conquistou seu espaço naturalmente, mas é, antes, o resultado de muita luta pelos direitos humanos e seus desdobramentos práticos no mundo da educação.

Para compreendermos o cenário atual, vamos voltar um pouquinho na história. É importante retomarmos o fato de que a educação no Brasil começou a ser obrigatória e gratuita somente em 1934: com a Constituição, foi nesse momento em que a escola passou a ser compreendida como um dever compartilhado entre Estado e família. Assim, no século XIX, a escola passou a ser massiva, contemplando todos os cidadãos brasileiros. Desta forma, foi sendo necessário, cada vez mais, que a legislação fosse aprimorada de forma a atender as necessidades que surgissem: com mais pessoas tendo o direito à educação, mais especificidades vieram à tona.

Ao voltar o nosso olhar para o aspecto inclusivo, até os anos 60, a Educação para pessoas com deficiência era centrada em instituições segregadas, tendo como base a medicalização e o isolamento. Na década de 1970, houve uma mudança de perspectiva, com movimentos que começaram a questionar a segregação e a propor uma inclusão mais efetiva das pessoas com deficiência na sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1971 foi um marco importante, pois estabeleceu a obrigatoriedade de escolas regulares oferecerem atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência.

No final da década de 1980, a Constituição brasileira de 1988, trouxe princípios fundamentais para a Educação Inclusiva, destacando a igualdade de oportunidades, a não discriminação e o direito à educação para todos. A Lei começou a ser seguida, incluindo estudantes com deficiência na rede regular de ensino, entretanto enfrentando muitos desafios e impedimentos devido à falta de infraestrutura adequada e formação de professores para atenderem este novo público. A década de 1990 foi marcada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional (LDB 9394/96), que instituiu a obrigatoriedade da educação para crianças a partir dos 4 anos de idade, sem nenhum tipo de discriminação. Estas normativas contribuíram para que a escola fosse pensada de uma forma diferente, isto é, incluindo todos e todas.

O século XXI inicia uma era em que a educação é cada vez mais inclusiva. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, lançada em 2008, representou um avanço significativo, estabelecendo diretrizes para a inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação nas escolas regulares. Ou seja, o olhar da inclusão na escola se ampliou, também se voltando para estudantes com questões mentais e intelectuais, não somente aqueles com necessidades físicas.

Este breve histórico deixa um pouco mais evidente como está sendo a caminhada da educação até o momento. É fundamental que as escolas estejam diferentes do que se apresentavam no passado, afinal, hoje não se tolera mais cenas de discriminação, sejam elas de quaisquer tipos. As crianças e os adolescentes têm o direito de viver a escola em sua plenitude, encontrando seu próprio caminho em meio a diversidade que marca a própria natureza humana.

Nesse sentido, hoje, pensar a educação inclusiva é conseguir colocar em prática aquilo que a legislação preconiza: promover a educação inclusiva na escola é fundamental para garantir que todos os estudantes, independentemente de suas habilidades, origens ou características, tenham acesso a oportunidades de aprendizado de qualidade.

Sendo assim, pudemos ver que a luta pela inclusão teve como ponto de partida trazer a presença de crianças com deficiências nas salas de aula regulares. Entretanto, esta grande transformação não parou por aí: ampliou o olhar dos profissionais da educação, passando a iluminar a diversidade com um todo, isto é, a escola se tornou em um lugar em que respeitar as diferenças (sejam elas físicas, culturais, raciais, de gênero) é prioridade.

Por ser algo que está em constante atualização e transformação, a forma em que este contexto deve ser abordado ainda é bastante debatida: como trabalhar a diversidade e incluir as diferenças na escola?

Vamos explorar algumas sugestões?

Em primeiro lugar, é fundamental que haja conscientização em toda a comunidade escolar: para que escola trabalhe a diversidade, não só professores e equipe pedagógica precisam estar sensibilizados e informados sobre a importância da inclusão, mas todos os funcionários, famílias e alunos devem estar cientes de que as pessoas são diferentes e que é necessário aprender e debater as melhores práticas para lidar com o desigual, muitas vezes, desconhecido.

Nesse sentido, além de manter uma comunicação aberta com os pais e responsáveis dos alunos e alunas, para entender melhor as necessidades de cada criança e trabalhar juntos para apoiar seu aprendizado, é fundamental estabelecer políticas contra o bullying e a discriminação na escola, garantindo a existência de um ambiente seguro e respeitoso para toda a comunidade escolar.

Como mencionamos anteriormente, é fundamental fazer com que o ambiente escolar seja fisicamente seguro e acessível para todos os alunos. É necessário pensar que a escola deve atender às necessidades de todos, para que todos possam se movimentar com autonomia e segurança.

Em sala de aula, uma dica valiosa para o professor, é que seja possível observar e avaliar cada aluno individualmente. Dessa forma, ficará mais rica a identificação de características únicas de cada um, incluindo questões de desenvolvimento, transtornos de aprendizagem, habilidades excepcionais ou outras características que impactem a vida do estudante na escola e, consequentemente, o seu aprendizado.

Assim, o professor poderá trabalhar a adaptação curricular, isto é, adaptar o planejamento das aulas para atender necessidades de todos os alunos. Desta forma, as atividades poderão ser modificadas para atender demandas específicas, com materiais e práticas pedagógicas pensadas em acomodar diferentes estilos de aprendizagem e níveis de habilidade. Por exemplo, promover atividades em duplas e pequenos grupos que incentivem a colaboração entre alunos com diferentes habilidades e características, possibilita a criação de um ambiente de aprendizado mais inclusivo e enriquecedor para todos.

Outra maneira de enriquecer os processos de ensino-aprendizagem de maneira inclusiva e que atenda as necessidades individuais dos estudantes é incorporar a tecnologia na sala de aula: equipamentos digitais e as plataformas de aprendizagem podem contribuir positivamente para a turma como um todo. Além disso, adotar tecnologias assistivas, como softwares de leitura em voz alta, programas de comunicação alternativa e dispositivos adaptados contribuem para facilitar o aprendizado dos alunos com necessidades específicas.

É importante destacar que a avaliação também deve ser pensada de forma a permitir que os alunos demonstrem seu conhecimento de maneiras que sejam mais adequadas às suas habilidades e estilos de aprendizagem. Uma prova ou teste “padrão” não irá contemplar todos os estudantes da mesma forma: é necessário avaliá-los constantemente e de forma a se aprofundar na medida em que o conhecimento está sendo trabalhado e aprendido por cada aluno.

Como pudemos notar, este é um assunto importante, com muitos detalhes e particularidades cada vez mais discutido pela escola. A educação inclusiva é um processo contínuo e requer um esforço planejado e coletivo que está sendo aprimorado a cada dia que passa.

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