Todas as épocas possuem algumas características específicas e fatos históricos que as singularizam. De acordo com a perspectiva e a região geográfica dos historiadores, datas exatas e nomenclaturas podem variar, entretanto, há uma generalização e uma convenção que ajuda a categorizar e analisarmos os eventos e desenvolvimentos de maneira mais organizada.
Assim, quando estudamos a Pré-História, a Idade da Pedra, logo a relacionamos às ferramentas e a uma sociedade que passa de ser nômade para se assentar e realizar a revolução agrícola. Ao voltar nosso olhar para a Antiguidade, o desenvolvimento da escrita é o grande diferencial, encontramos os povos civilizados, o avanço da cultura e das artes, surgem as religiões. Na Idade Média, desenvolve-se o sistema feudal, com muita hierarquia e nesse momento surgem as primeiras universidades com muitas descobertas que influenciam as nossas vidas até hoje. Na Idade Moderna, a expansão marítima e as colonizações acontecem em larga escala e as transformações na sociedade vão em direção ao sistema capitalista. A Era Contemporânea é a era que ocorre a consolidação do capitalismo, as grandes guerras e se estende até os dias de hoje.
Há uma linha de pensamento que já separa a Era Contemporânea de uma nova Era, a Era Pós-Moderna, que se refere ao período após a Guerra Fria, caracterizado por mudanças culturais, tecnológicas e políticas significativas, contando com uma das grandes revoluções no campo dos saberes e das comunicações: a internet.
Era Pós-Moderna e seus desafios
Viver em um mundo sem internet é hoje algo impensável: em um planeta com aproximadamente 7,9 bilhões de seres humanos, mais de 5 bilhões acessam o mundo online. Estes números podem causar espanto, afinal quando analisamos a história da humanidade, o surgimento da internet é algo relativamente novo: a primeira rede foi criada em 1969 e chegou ao Brasil somente em 1988. O uso comercial da internet, isto é, acessível para todas as pessoas, só aconteceu no final dos anos 1990 e, por este motivo, quando falamos sobre a Era Pós-Moderna, Era da Internet, estamos nos referindo majoritariamente ao século XXI.
Por este motivo, existem muitos aspectos relacionados ao mundo online, tecnológico e digital que ainda estão em desenvolvimento e se transformando, embora já estejamos usando de maneira global e integral: é como se estivéssemos aprendendo a dirigir em um carro já em movimento!
Nesse sentido, quando pensamos na internet e no mundo da tecnologia e como estas novidades impactam a educação nos dias atuais, ainda há muito o que ser descoberto e aprimorado. A nossa proposta é explorar um assunto importantíssimo neste universo: a cidadania digital. Vamos nessa?
O que é cidadania digital?
A cidadania digital refere-se à capacidade de usar as tecnologias digitais de informação e comunicação de forma responsável, ética e eficaz. Envolve a aquisição de habilidades e conhecimentos necessários para navegar no ambiente digital, entender os desafios e as oportunidades que a tecnologia oferece e contribuir para uma sociedade digital inclusiva e segura.
A legislação brasileira no âmbito da educação contempla o desenvolvimento e habilidades relacionadas à cidadania digital. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca na competência geral 5: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2018)
Sendo assim, o uso das tecnologias digitais não deve ser apenas o meio (ou o suporte) para promover as aprendizagens e despertar o interesse dos alunos, mas que contribua para construir conhecimentos com e sobre as tecnologias digitais de informação e comunicação, incluindo a cidadania digital.
Alfabetização Digital
O mundo digital está presente no nosso cotidiano de forma total: ao carregarmos um smartphone no bolso, levamos este universo conosco. Pensando nisso, como praticamente todas as pessoas possuem um aparato deste tipo, o mundo digital parece ser algo muito simples e intuitivo, mas pode não ser tão fácil para muitas pessoas.
Desta forma, no mundo da educação, antes de nos aprofundarmos na cidadania digital, sempre devemos considerar a alfabetização digital, isto é, o desenvolvimento de habilidades básicas para usar computadores, dispositivos móveis e softwares. Aqui a ideia é que os estudantes saibam para além de ligar e desligar um device: inclui desde a capacidade de navegar na internet, usar aplicativos e programas, assim como criar e editar conteúdo digital.
Outro ponto essencial para aqueles que estão adentrando o mundo do letramento digital é entender conceitos fundamentais de segurança online, não apenas aspectos básicos como o uso de senhas fortes, mas também saber manter informações pessoais seguras online, se proteger contra vírus e malwares, reconhecer ameaças cibernéticas, evitar fraudes e adotar práticas seguras de navegação na web.
A ética no mundo digital
Em sala de aula, além de saber como e para quê utilizar a internet, as tecnologias e o mundo digital, os alunos também são provocados e incentivados a pensarem neste universo de modo a desenvolver habilidades da cidadania digital.
Em primeiro lugar, é de extrema importância que questões sobre a conscientização da desigualdade no acesso à tecnologia e no letramento digital sejam trazidas à tona: é fundamental garantir que todos os alunos tenham oportunidades de praticar a cidadania digital. Assim, a escola deve contemplar tanto em sua estrutura física, quanto nos planejamentos de aula, momentos que possibilitem que todos os estudantes trabalhem usando a tecnologia e a internet.
Assim, cidadania digital contempla o desenvolvimento da empatia e respeito pelos outros, não só dentro da sala de aula do mundo real, mas também no ambiente online, promovendo uma cultura de respeito mútuo e tolerância às diferenças e particularidades de cada um. Neste ponto, os estudantes também são convidados a explorarem temas relacionados à prevenção do cyberbullying, isto é, formas online de assédio, difamação, perseguição ou intimidação online.
Outro ponto que a educação deve tratar quando se fala em cidadania digital é a proteção da privacidade, ou seja, garantir que os estudantes não compartilhem e saibam das consequências do compartilhamento de informações ou imagens privadas de alguém sem o seu consentimento.
Além disso, a cidadania digital também se concentra em questões éticas relacionadas ao respeito pelos direitos autorais e a propriedade intelectual: por ser muito fácil encontrar conteúdos disponíveis no ambiente online e conseguir copiá-los e colá-los, é importante conscientizar os estudantes sobre plágio e a utilização de imagens ou sons sem autorização, ou crédito.
Pensamento crítico no mundo digital
A cidadania digital também está relacionada ao desenvolvimento de habilidades do pensamento crítico: os estudantes devem avaliar informações online para discernir fontes confiáveis de informações e entender como as notícias e as mídias sociais podem ser manipuladas para difundir desinformação. Assim, poderão reconhecer notícias e anúncios falsos e demonstrar honestidade, ao não compartilhar rumores sem comprovação.
A compreensão de como a tecnologia pode ser usada para engajar-se na política, na comunidade e em causas relevantes para a sociedade é mais um ponto que configura a cidadania digital: é possível utilizar o ambiente tecnológico e online para promover o bem comum e contribuir para o mundo atual e futuro.
Pudemos ver que a Era Pós-Moderna, ou a Era da Internet, possui uma particularidade que a diferencia dos outros momentos históricos: além da cidadania no mundo real, é necessário pensar na cidadania digital, pois a tecnologia desempenha um papel cada vez mais central em nossas vidas, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Assim, a educação tem papel primordial no desenvolvimento de habilidades que possibilitem uma construção positiva da cidadania digital: ajuda os estudantes a se tornarem participantes e responsáveis na sociedade digital e, portanto, tenham a oportunidade de aproveitar ao máximo o que tecnologia oferece, de forma respeitosa e adequada.